A palavra sustentabilidade caiu no gosto do povo. Hoje, todo mundo sabe que sustentabilidade é qualquer ação que, realizada no presente, tem chances de futuro. Ou dito de maneira mais elegante: é toda atividade socialmente justa e ambientalmente correta, capaz de durar no tempo. Ela traz a consciência de que os recursos naturais da Terra são finitos. E também o óbvio: as gerações futuras precisarão desses recursos para viver.
A popularização de conceitos socioambientais é um tremendo avanço. Assim como a compreensão de que, em uma democracia, cada um pode emitir suas opiniões sobre o presente e o futuro do planeta. Essa é uma condição necessária, mas não suficiente. É preciso resolver os problemas. Um deles é o saneamento básico, via de regra, pouco comentado como um problema ambiental.
Segundo dados da Pnad (Pesquisa Nacional Por Amostra de Domicílios de 2009), 59,1% dos domicílios brasileiros não têm acesso à rede geral de esgoto. Somado a isso, pesquisa do IBGE de 2008 aponta que apenas 61% dos municípios brasileiros distribui água totalmente tratada. A conjunção falta de esgoto com ausência de água tratada acarreta problemas de saúde e de ambiente. Entre as doenças, estão cólera, malária, diarréia e hanseníase. Entre os prejuízos ambientais, estão dejetos jogados diretamente no solo, córregos e rios.
Mas não existe isso de resolver uma coisa e depois outra. O jeito é tentar solucionar tudo ao mesmo tempo. Saneamento básico, economia, sustentabilidade se ligam à discussão de caminhos de crescimento para o país. “O Brasil reúne condições únicas para propor ao mundo um modelo de desenvolvimento socioambiental mais equilibrado. Temos uma matriz energética limpa, diversidade ambiental e a capacidade do brasileiro de rapidamente se adaptar a mudanças”, diz o consultor Sergio Serapião, diretor executivo da Via Gutemberg.
Pré-sal
Seguindo o raciocínio de que somos um país muito rico em água, sol, cana de açúcar, há quem veja como uma aventura perigosa a exploração do pré-sal, cujo impacto no ambiente fará estrondo: emissão de gases tóxicos na atmosfera aumentando o aquecimento do planeta, poluição das águas, grandes intervenções de infraestrutura nos estados produtores, e riscos de vazamento de petróleo no oceano.
O ambientalista Rubens Born, um dos coordenadores do Instituto Vitae Civilis, acredita que a sustentabilidade do Brasil não está na exploração de petróleo e nem na construção de hidrelétricas. “Há soluções para gerar crescimento econômico e empregos com o uso de energias movidas pelo vento e pelo sol, abundantes no território. Já temos tecnologia para isso, o que faltam são políticas públicas que facilitem as boas práticas não predatórias”, diz ele.
Seria um paradoxo investir na exploração do petróleo em um país com matriz energética limpa? “Em termos”, responde Paulo Nogueira Neto, professor emérito de Ecologia da USP e o primeiro secretário de Meio Ambiente do Brasil. Ele explica: “O país faz bem em aproveitar o petróleo, porque traz dinheiro e desenvolvimento. Mas, ao mesmo tempo, o Brasil tem que preservar as florestas, uma vez que são elas que retiram o gás carbono da atmosfera e o pré-sal vai produzir muitos gases. Temos também que criar novas florestas, pois quando a árvore está crescendo é o momento que ela mais consome o carbono”.
Dia a dia
Mas sustentabilidade não diz respeito apenas a mega projetos. Pequenas ações também incidem para o aquecimento global, a mudança climática, o caos urbano. Cada pessoa pode contribuir para melhorar o estado das coisas. Exemplos comezinhos são: a economia do uso da energia e da água dentro de casa, a separação do lixo, o correto acondicionamento dos alimentos e até plantar uma arvorezinha no quintal de casa. Se apenas um fizer pode não fazer muita diferença, mas se milhões fizerem a história muda.
Outra consciência que o conceito de sustentabilidade agrega diz respeito ao consumo. É evidente que não podemos nos tornar dragas, a consumir tudo que o mercado oferece: dois celulares, dois carros, dois computadores, duas geladeiras, três televisões, coleções de roupas e pares de sapato, cremes, chaveirinhos etc., etc. Todos os produtos, criados pela humanidade, em algum grau retiram alguma riqueza da natureza.
Esta consciência do consumo pode contribuir decisivamente para uma sociedade sustentável. Assim pensa o biólogo e educador socioambiental, do Instituto Morada da Floresta, Cesar Pegoraro: “O consumidor tem muito poder. Ele pode observar de onde vêm o que ele adquire. Pode se negar a comprar produtos de empresas envolvidas com desmatamento, crueldade com animais, trabalho infantil ou escravo. É um salto adiante, tornar-se um consumidor-cidadão”.
Engajamento
O cidadão também pode pressionar os governos a investir em boas práticas. Entre elas: saneamento básico para todos, transporte público de qualidade, criação de ciclovias que de fato levem de um ponto a outro, coleta seletiva organizada, educação ambiental nas escolas, compensação para quem preserva matas, responsabilização de pessoas, empresas, municípios que cometam crimes ambientais.
Na opinião da advogada ambientalista Rachel Biderman, coordenadora adjunta do Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas, a população, não só pode, como deve participar dos debates de sustentabilidade. “Há várias formas de engajamento. Pode ser participando dos Conselhos de Meio Ambiente, existentes em muitas cidades. Pode ser trabalhando em ONGs ou associações de bairro. Ou até mesmo pela internet, propondo e participando de fóruns virtuais, blogando, twitando”.
Mudança do clima, aquecimento global, contaminação das águas, desmatamento, desrespeito aos ecossistemas são problemas enormes com consequências globais devastadoras. No entanto, caminhos de soluções começam a ser trilhados. Conferências Mundiais de Meio Ambiente produzem alertas e recomendações para os governos do mundo. Países se comprometem com políticas e metas. Surgem novas profissões, como engenharia ambiental, gestão em sustentabilidade, direito ambiental, entre outras.
Também há avanços na ciência e na pesquisa tecnológica para minimizar os estragos causados pelos motores da produção. Economistas já consideram a sustentabilidade socioambiental em suas propostas e projetos. Muitas empresas começam a incorporar o conceito e sobem no bonde de práticas mais sustentáveis.
Para o próximo presidente e sua equipe fica a tarefa de honrar o que o Brasil assinou na Conferência do Clima, realizada ano passado em Copenhague. O país se comprometeu a reduzir suas emissões de carbono em 38,9% até o ano de 2020. Também se comprometeu com a redução do desmatamento na Amazônia e no Cerrado. Oxalá!
A popularização de conceitos socioambientais é um tremendo avanço. Assim como a compreensão de que, em uma democracia, cada um pode emitir suas opiniões sobre o presente e o futuro do planeta. Essa é uma condição necessária, mas não suficiente. É preciso resolver os problemas. Um deles é o saneamento básico, via de regra, pouco comentado como um problema ambiental.
Segundo dados da Pnad (Pesquisa Nacional Por Amostra de Domicílios de 2009), 59,1% dos domicílios brasileiros não têm acesso à rede geral de esgoto. Somado a isso, pesquisa do IBGE de 2008 aponta que apenas 61% dos municípios brasileiros distribui água totalmente tratada. A conjunção falta de esgoto com ausência de água tratada acarreta problemas de saúde e de ambiente. Entre as doenças, estão cólera, malária, diarréia e hanseníase. Entre os prejuízos ambientais, estão dejetos jogados diretamente no solo, córregos e rios.
Mas não existe isso de resolver uma coisa e depois outra. O jeito é tentar solucionar tudo ao mesmo tempo. Saneamento básico, economia, sustentabilidade se ligam à discussão de caminhos de crescimento para o país. “O Brasil reúne condições únicas para propor ao mundo um modelo de desenvolvimento socioambiental mais equilibrado. Temos uma matriz energética limpa, diversidade ambiental e a capacidade do brasileiro de rapidamente se adaptar a mudanças”, diz o consultor Sergio Serapião, diretor executivo da Via Gutemberg.
Pré-sal
Seguindo o raciocínio de que somos um país muito rico em água, sol, cana de açúcar, há quem veja como uma aventura perigosa a exploração do pré-sal, cujo impacto no ambiente fará estrondo: emissão de gases tóxicos na atmosfera aumentando o aquecimento do planeta, poluição das águas, grandes intervenções de infraestrutura nos estados produtores, e riscos de vazamento de petróleo no oceano.
O ambientalista Rubens Born, um dos coordenadores do Instituto Vitae Civilis, acredita que a sustentabilidade do Brasil não está na exploração de petróleo e nem na construção de hidrelétricas. “Há soluções para gerar crescimento econômico e empregos com o uso de energias movidas pelo vento e pelo sol, abundantes no território. Já temos tecnologia para isso, o que faltam são políticas públicas que facilitem as boas práticas não predatórias”, diz ele.
Seria um paradoxo investir na exploração do petróleo em um país com matriz energética limpa? “Em termos”, responde Paulo Nogueira Neto, professor emérito de Ecologia da USP e o primeiro secretário de Meio Ambiente do Brasil. Ele explica: “O país faz bem em aproveitar o petróleo, porque traz dinheiro e desenvolvimento. Mas, ao mesmo tempo, o Brasil tem que preservar as florestas, uma vez que são elas que retiram o gás carbono da atmosfera e o pré-sal vai produzir muitos gases. Temos também que criar novas florestas, pois quando a árvore está crescendo é o momento que ela mais consome o carbono”.
Dia a dia
Mas sustentabilidade não diz respeito apenas a mega projetos. Pequenas ações também incidem para o aquecimento global, a mudança climática, o caos urbano. Cada pessoa pode contribuir para melhorar o estado das coisas. Exemplos comezinhos são: a economia do uso da energia e da água dentro de casa, a separação do lixo, o correto acondicionamento dos alimentos e até plantar uma arvorezinha no quintal de casa. Se apenas um fizer pode não fazer muita diferença, mas se milhões fizerem a história muda.
Outra consciência que o conceito de sustentabilidade agrega diz respeito ao consumo. É evidente que não podemos nos tornar dragas, a consumir tudo que o mercado oferece: dois celulares, dois carros, dois computadores, duas geladeiras, três televisões, coleções de roupas e pares de sapato, cremes, chaveirinhos etc., etc. Todos os produtos, criados pela humanidade, em algum grau retiram alguma riqueza da natureza.
Esta consciência do consumo pode contribuir decisivamente para uma sociedade sustentável. Assim pensa o biólogo e educador socioambiental, do Instituto Morada da Floresta, Cesar Pegoraro: “O consumidor tem muito poder. Ele pode observar de onde vêm o que ele adquire. Pode se negar a comprar produtos de empresas envolvidas com desmatamento, crueldade com animais, trabalho infantil ou escravo. É um salto adiante, tornar-se um consumidor-cidadão”.
Engajamento
O cidadão também pode pressionar os governos a investir em boas práticas. Entre elas: saneamento básico para todos, transporte público de qualidade, criação de ciclovias que de fato levem de um ponto a outro, coleta seletiva organizada, educação ambiental nas escolas, compensação para quem preserva matas, responsabilização de pessoas, empresas, municípios que cometam crimes ambientais.
Na opinião da advogada ambientalista Rachel Biderman, coordenadora adjunta do Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas, a população, não só pode, como deve participar dos debates de sustentabilidade. “Há várias formas de engajamento. Pode ser participando dos Conselhos de Meio Ambiente, existentes em muitas cidades. Pode ser trabalhando em ONGs ou associações de bairro. Ou até mesmo pela internet, propondo e participando de fóruns virtuais, blogando, twitando”.
Mudança do clima, aquecimento global, contaminação das águas, desmatamento, desrespeito aos ecossistemas são problemas enormes com consequências globais devastadoras. No entanto, caminhos de soluções começam a ser trilhados. Conferências Mundiais de Meio Ambiente produzem alertas e recomendações para os governos do mundo. Países se comprometem com políticas e metas. Surgem novas profissões, como engenharia ambiental, gestão em sustentabilidade, direito ambiental, entre outras.
Também há avanços na ciência e na pesquisa tecnológica para minimizar os estragos causados pelos motores da produção. Economistas já consideram a sustentabilidade socioambiental em suas propostas e projetos. Muitas empresas começam a incorporar o conceito e sobem no bonde de práticas mais sustentáveis.
Para o próximo presidente e sua equipe fica a tarefa de honrar o que o Brasil assinou na Conferência do Clima, realizada ano passado em Copenhague. O país se comprometeu a reduzir suas emissões de carbono em 38,9% até o ano de 2020. Também se comprometeu com a redução do desmatamento na Amazônia e no Cerrado. Oxalá!
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